terça-feira, 2 de julho de 2013

LIÇÕES DO RICO E LÁZARO.

TEXTO: Lc 16: 19-31.
Devido o comportamento dos fariseus (Lc 16.14s) motivou a Jesus que contasse a parábola do Rico e Lázaro. Jesus prega aqui a grande verdade de que omitir-se em relação à ordem de “com ajuda da riqueza fazer amigos” pode vir a causar a desgraça eterna. Creio que esta parábola (Lc 16.19-31) é uma contrapartida para a parábola do administrador injusto, com a qual está ligada. Quem faz amigos com as riquezas da injustiça receberá o prêmio nas moradas eternas (Lc 16.1-9). Quem por orgulho e egoísmo utiliza seus bens terrenos apenas para fins egoístas e interesseiros, é remetido ao tormento eterno.
            Esta parábola está construída com tal mestria que não tem uma só frase a mais. Ela trata das questões sociais e econômicas e as suas influencias na esfera espiritual. A parábola mostra duas situações adversas. Consideremos, pois, os dois personagens desta parábola.
Primeiro, o homem rico (não faz referencia a nenhum nome). Cada frase adiciona algo para descrever o luxo em que vivia. Vestia-se de púrpura e linho fino. Esta é a descrição das túnicas dos sumos sacerdotes, que podiam custar uma soma equivalente a vários anos de trabalho de um operário, cujo valor corrente era, em torno de uma dracma por dia trabalhado. Todo o dia dava festas. Fazendo isso quebrantava definida e positivamente o quarto mandamento, que não só proíbe trabalhar nos sábados, mas também diz seis dias trabalharás (Êxodo 20:9). Em um país onde a pessoa pobre se contava feliz se podia comer carne uma vez por semana e onde trabalhava duramente seis dias por semana, o rico é a figura da indolência e da insensibilidade. Lázaro aguardava que caíssem as migalhas da mesa do rico. Na época de Jesus não havia nem faca nem garfos nem guardanapos. Comia-se com as mãos, e em toda casa rica, as mãos se limpavam em pedaços grossos de pão, que logo se jogavam. Lázaro estava esperando esse pão. O rico é a imagem do esbanjamento.  Usufruía de uma vida confortável, status social, cuja existência limitava-se a este tempo terreno. Sua situação era muito boa, então não havia uma preocupação ao futuro, sua vida terrena era suficientemente tranquila, então não havia a preocupação com o pós-morte.
A parábola não diz que ele não dava esmolas para Lázaro. Não tinha ordenado que Lázaro fosse posto para fora. Não tinha dito que Lázaro tomasse o pão que se atirava de sua mesa. Não lhe tinha dado de chutes ao passar. Não tinha sido deliberadamente cruel com ele. O pecado do rico tinha sido não prestar atenção a Lázaro, tê-lo aceito parte do panorama, ter pensado que era perfeitamente natural e inevitável que Lázaro estivesse sofrendo na dor e na fome enquanto ele nadava na opulência. Como alguém disse: "Não foi o que o rico fez o que o condenou, mas sim o que não fez o levou ao inferno".
Em segundo lugar, Lázaro, que não é o personagem principal, mas secundário da parábola, aparece somente sofrendo ou suportando. Chama atenção que não se menciona o nome do rico, enquanto o do pobre é citado. Trata-se da única vez em que um nome é citado em todas as parábolas de Jesus (seria para mostrar que o Senhor conhece e chama pelo nome aqueles que lhe pertencem?). A situação de Lázaro era extrema ao do rico. De alguma forma ele buscava ser visto e ajudado pelo homem rico, já que permanecia jogado a sua porta, e, alimentava-se apenas de migalhas que caia da sua mesa. Quantos estão à nossa porta esperando que compartilhemos um pouco de tantas riquezas que temos recebido do Senhor?
Lázaro estava “jogado” no acesso ao portão do rico. A forma “jogado” expressa melhor a construção da forma passiva do texto original. No entanto, é possível que estivesse prostrado por uma enfermidade (cf. Mt 8.6,16; Mc 7.30). Aqui o termo significa que o pobre nem mesmo era capaz de movimentar-se livremente e, além disso, que as pessoas que o traziam à frente da porta do rico livravam-se dele como de um fardo pesado que se lance por terra.
Lázaro estava jogado diante do portão coberto de chagas. Uma enfermidade maligna, claramente visível, demandava urgentemente um cuidado misericordioso. Ao lado da necessidade de cuidado sua fome não saciada deveria ter causado a compaixão do rico. Contudo na casa do rico não havia disposição para ajudar. De forma análoga a uma das parábolas anteriores, ninguém se compadeceu dele (Lc 15.16).
De maneira drasticamente intensificada o relato prossegue, dizendo: “Até os cães vinham lamber suas feridas”. Ao pobre não eram propiciados nem cuidados nem atendimento. Recebia tão pouca atenção que somente os cães cuidavam dele, lambendo com compaixão canina suas feridas. Não há consenso entre os comentaristas se o lamber dos cães aliviava ou aumentava as dores.
Lázaro não tinha nenhuma perspectiva nesta vida terrena. Suas mazelas levavam-o ao anseio de outra vida que acabasse de vez com suas duras lutas. Leva-o a busca de Deus para preencher o vazio que a sua vida terrena trazia, o fez optar pelas coisas celestiais, e teve sua recompensa.
Porém seria complicado que Jesus declarasse que anjos o carregaram para junto de Abraão se não tivesse outra carta de recomendação a apresentar a seu ancestral Abraão do que meramente sua pobreza no passado.
A primeira parte, mais curta, da parábola, que abrange o episódio terreno, mostra um homem rico em seus afazeres terrenos e a forma como aproveitava a vida, como um administrador infiel em relação ao que demandavam “a lei e os profetas”, que o rico conhecia. A devoção do pobre e a impiedade do rico são apenas aludidas.
As palavras “Havia um homem rico” introduzem o personagem principal da narrativa. Na segunda frase é descrita a esplêndida vida de opulência desse homem rico. É uma pintura de traços vigorosos e características de fácil compreensão. A púrpura era a cor vermelho-escura de um tecido de lã, vendido por preço extremamente caro. O linho não menos precioso, que igualmente custava muito caro por causa de sua cor branca radiante. Ambos os tipos de tecido eram tão luxuosos que somente reis e sacerdotes tinham condições de usar tais vestimentas. Banquetes festivos aconteciam não uma vez ou outra, mas diariamente em sua casa. Em todos os divertimentos ele ostentava o esplendor pomposo de suas magníficas vestes.
As riquezas não são ruins, e muito menos Jesus falou que ser rico é pecado. As riquezas se tornam dádivas de Deus quando a usamos para amenizar a pobreza dos outros. O grande problema é quando nossa confiança e prazer se coloca nela, e ela se torna suficiente ao ponto de não mais se confiar em Deus.
A sequencia da narrativa fala do estado bem-aventurado ao qual Lázaro foi transferido por intermédio da morte. Nada é dito acerca de um sepultamento do pobre, de quem ninguém sentiu falta. Jesus permite entrever que a morte representou o fim do sofrimento e a entrada na beatitude para o pobre. Da terra, palco de seu sofrimento, os anjos o carregaram para junto de Abraão.
As informações dadas acerca do pobre conduzem à história do rico. Relata-se que ele também morreu. Antes, porém, de se mencionar a situação em que ele se encontrava, é acrescentado: “E foi sepultado”. Da mesma forma como não se sente falta da observação de que o pobre não foi sepultado, tão impactante aparece, no entanto, esse adendo acerca do rico. De todos os bens deste mundo restou-lhe somente a sepultura, à qual o corpo foi entregue para apodrecer. Nessas palavras está uma alusão ao contraste referente ao fato de que o pobre foi carregado para o colo de Abraão. Para Lázaro a morte trouxe o fim de seu sofrimento terreno, para o rico o fim de sua felicidade na terra.
O rico estava no lugar dos suplícios. O gesto de levantar os olhos deve ser imaginado como um anseio e uma busca do atormentado por socorro. Fala-se de erguer o olhar, da língua do rico, do dedo de Lázaro, do sofrimento nas chamas e de ser refrigerado por meio da água.
O pecado do rico era que podia olhar o sofrimento e a necessidade do mundo, sem sentir que a espada da dor e a compaixão atravessava seu coração; via outro homem, faminto e dolorido, e não fazia nada por ele. Seu castigo foi o de alguém que nunca se deu conta de nada.
Parece-nos muito duro que seu pedido de que se advertisse a seus irmãos fosse negado. Mas a simples realidade é que se os homens possuírem a verdade da Palavra de Deus, e sim, a qualquer lugar que olhem, há tristeza que precisa ser consolada, necessidade que suprir, dor que remediar, e isso não os move à compaixão e a ação, nada os mudará.
É uma terrível advertência o recordar que o pecado do rico foi não que fizesse coisas más, mas sim não ter feito nada.
Mas a parábola também nos remete a outros ensinamentos:
1) É aqui na terra que decidimos a eternidade no céu. Para isso Deus deu os meios necessários: as Escrituras e os Profetas.
2) Cada individuo receberá sua sentença ao deixar este mundo logo após a morte, e que cada um é responsável por si, no que diz respeito à sua decisão.
3) Mostra que só é possível passar uma vez nesta terra, depois disso é juízo combatendo a reencarnação, não sendo possível aos espíritos comunicar-se com os vivos.