sábado, 5 de março de 2011

Lei e Graça

Gl 3: 15-25.
A Lei não pode invalidar a promessa:
Irmãos, falo como homem. Ainda que uma aliança seja meramente humana, uma vez ratificada, ninguém a revoga ou lhe acrescenta alguma coisa.
Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: aos descendentes, como se falando a muitos, porem como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo.
E digo isto: uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio 430 anos depois, não pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa.
Porque, se a herança provém de lei, já não decorre de promessa; mas foi pela promessa que Deus a concedeu gratuita a Abraão.
Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi adicionada por causa das transgressões, até que viesse o descendente a quem se fez a promessa, e foi promulgada por meio de anjos, pela Mao de um mediador.
Ora, o mediador não é de um, mas Deus é um.
É, por ventura, a lei contrária às promessas de Deus? De modo nenhum! Porque, se fosse promulgada uma lei que pudesse dar a vida, a justiça, na verdade, seria procedente da lei.
Mas a escritura encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante a fé em Jesus Cristo, fosse à promessa concedida aos que crêem.
Mas, antes que viesse a fé, estávamos sob a tutela da lei e nela encerrados, para essa fé que, de futuro, haveria de revelar-se.
De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fossemos justificados por fé.
Mas, tendo vindo à fé, já não permanecemos subordinados ao aio.


_ Aqui o apóstolo Paulo continua expondo “a verdade do evangelho”, quer dizer que a salvação é um dom gratuito de Deus, recebido por meio da fé no Cristo crucificado, independentemente de qualquer mérito humano. Ele esta enfatizando isto porque os judeus não conseguiam aceitar o principio da “fé somente”. Eles insistiam em que os homens tinham que contribuir com alguma coisa para a sua salvação.
Assim, acrescentavam à fé em Jesus “as obras da lei” como outro fundamento essencial para o individuo ser aceito por Deus.
A maneira como Paulo apresenta o plano divino da salvação gratuita vem do Antigo Testamento. A fim de entender o seu argumento e sentir a sua força temos que captar tanto a historia quanto a teologia que se encontram por trás do seu raciocínio.
a). A historia:
Vamos voltar lá para o A. T., mais precisamente para Abraão, e daí para Moisés, que viveu alguns séculos mais tarde. Embora seu nome não apareça aqui, mas com toda a certeza Moisés é o “mediador” citado no verso 19.
Vamos recordar então, peço que os amados irmãos me ajudem:
- Onde Abraão morava quando Deus o Chamou? Ur dos Caldeus
- Qual foi à promessa de Deus a Abraão? Daria-lhe uma semente, ou prosperidade, numerosa. Que daria a ele e aos seus descendentes uma terra e que em sua descendência todas as famílias da terra seriam abençoadas.
O versículo 17 refere-se a um período de 430 anos, o qual corresponde não somente ao tempo entre Abraão e Moisés, como também o tempo de escravidão do povo de Israel no Egito. Finalmente séculos depois de Abraão, Deus levantou Moisés, e através deste libertou os israelitas da escravidão e deu-lhes a lei no Monte Sinai. Em resumo esta é a historia que liga Moisés a Abraão.
b) A Teologia:
A forma como Deus lidava com Abraão e Moisés fundamentava-se em dois diferentes princípios. A Abraão Deus deu uma promessa (...Vai para terra que te mostrarei... Te abençoarei... etc.). A Moisés, porém, deu uma lei resumida aos 10 mandamentos. Qual é a diferença entre estes dois princípios?
- Na promessa a Abraão, Deus disse: “mostrarei... farei... abençoarei...”, mas na lei de Moisés Ele disse: “Não... não... não”.
A maneira de Deus lidar com Abraão encaixava-se na categoria da “promessa”, da “graça” e da “fé”. Mas a forma como Ele lidava co Moisés encaixava-se na categoria da “lei”, dos “mandamentos” e das “obras”.
Então Paulo vai dividir o assunto em duas partes: os versos de 15 a 18 são negativos, ensinando o que a lei não é, ou seja, que ela não anulou a promessa de Deus. Dos versos 19 a 22 são positivos, ensinando o que a lei é, que dizer, que a lei iluminou a promessa de Deus.
1) A lei não anula a promessa de Deus:
O apóstolo inicia o verso 15 dizendo: “... falo como homem”, dando um exemplo humano. Podemos até mudar esta sentença para:” sirvo-me de uma comparação de fácil entendimento”. Esta comparação podemos extrair do reino das promessas humanas, não de um contrato comercial, mas de um testamento, que hoje chamamos de “o ultimo desejo” .
O ponto que Paulo destaca é que os desejos e as promessas expressos em um testamento são inalterados. E certamente não pode ser alterado por ninguém depois que o testante já morreu. Seja qual for o antecedente legal exato, e aqui esta o argumento: se o testamento de um homem não pode ser ignorado nem modificado, muito menos as promessas de Deus, que são imutáveis.
Essa era a promessa de Deus. Era livre e incondicional, sem qualquer compromisso. A lei não veio, portanto desfazer a promessa, para realizar um novo pacto no qual o homem precisa fazer para receber. Pois se assim for temos um fardo muito pesado, e se nossa justificação vier pela lei... sinto muito em dizer, mas estamos todos condenados. Muito menos Jesus veio revogar a lei, mas cumpri-la. Aquilo que os judeus usavam como fardo encima das pessoas Jesus aliviou para todos nós, pois não estamos mais debaixo da lei e sim da graça.
2) A lei ilumina a promessa:
A lei tem dois pontos importantes a serem destacados:
a) A lei serve para nos revelar o pecado; em Rm 3:20 “Pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”
b) A lei serve para nos afastar do pecado;
- No verso 19, Paulo destaca “Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi adicionada por causa das transgressões.”
- Mas devemos tomar muito cuidado, pois cada vez que vamos exortar um irmão ou uma irmã citando um versículo bíblico, pois a primeira chicotada deste verso deve ser sempre pra nós mesmos. Ou seja, este verso deve primeiro falar pra nós, devemos saber interpretar aquilo que vamos falar, e não é preciso ser Bacharel em Teologia, Pastor, missionário ou um grande estudioso da Palavra, pois o Espírito Santo nos dá este entendimento quando abrimos o coração e a mente pra isso. Vou dar um exemplo: quero exortar o meu irmão que deu uma pisada de bola e digo: Meu irmão a Palavra do Sr em Joel 2:12 diz: “Ainda assim, agora mesmo, diz o Senhor: convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto.” A pergunta é: eu entendi o peso da lei que eu coloco nos ombros do meu irmão? Antes, não deveria eu entender exatamente o que este verso quer dizer pra mim, e então dividir o fardo da lei com o meu irmão?
Conclusão;
A exposição de Paulo parece estranha aos nossos ouvidos. Mas ele esta expondo aqui alguma verdades eternas.
Atualmente a igreja precisa de uma filosofia cristã bíblica e histórica. A maioria de nós cristãos está míopes e intolerantes. Vivemos tão preocupados com nossos negócios que nem o passado e muito menos o futuro nos interessa. Precisamos dar um passo atrás a fim de perceber todo o conselho de Deus, o seu propósito eterno para um povo remido para Ele através de Jesus Cristo.
Só depois que a lei nos fere e esmaga é que admitimos a nossa necessidade do evangelho da graça para curar as nossas feridas. Só depois que a lei tiver condenado e matado é que vamos clamar a Cristo por justificação e vida. Só depois que a lei nos tiver humilhado até o inferno é que vamos buscar o evangelho para nos levar até o céu.
Vamos orar:

(Pregação na IPB de Carambeí, PR, dia 06/03/2011, às 19:30h)